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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cargo de prefeito: a galinha dos ovos de ouro.




Segundo números do TSE, dos 15.425 candidatos a prefeito nas eleições deste ano, 810 são advogados e 04 são juízes de direito. Ainda, concorrendo à vice-prefeito temos 594 advogados e 3 juízes de direito. Para a Câmara dos Vereadores são 5.444 advogados e 12 juízes na disputa, entre os 379.388 candidatos a vereador registrados na Justiça Eleitoral.

Os números revelam que o processo eleitoral brasileiro continua na mesma: nas capitais os cargos a prefeito continuam a ser ocupados por aqueles que sempre os ocupam - aqueles que possuem verbas milionárias para a campanha, vinda sabe-se lá de onde, suficientes para propagandas suntuosas com direito a efeitos especiais e "hits" bem elaborados.

Nas cidades pequenas a situação não muda. Onde teoricamente os cidadãos engajados em trabalhos voluntários e com grande preocupação com a comunidade poderiam ter sucesso na disputa por cargos políticos, estes continuam a ser cobiçados por advogados, geralmente da seara trabalhista laboral, e médicos, na maioria das vezes distribuidores de atestados médicos para perícias do INSS. Segundo o TSE temos em primeiro lugar, concorrendo ao cargo de prefeito, os médicos seguidos pelos advogados, empresários, comerciantes e agricultores.

Infelizmente na maioria dos municípios, os candidatos anônimos, a despeito do grande histórico de ações comunitárias, não conseguem uma vaga na Câmara dos Vereadores ou no Poder executivo, quer por falta de dinheiro para campanha, quer por falta de representatividade junto à população - que teima em dar votos a quem aparece mais ou tem a "musiquinha mais bonitinha".

A motivação do candidato a prefeito/verador deveria ser única e exclusivamente a defesa dos interesses de sua comunidade. Teoricamente. Da análise dos fatos chegamos a uma questão: o que leva um juiz de direito, que ganha em média R$ 15 mil - levando em consideração que o vencimento aumenta ou diminui de Estado para Estado não sendo inferior a R$ 10 mil - com privilégios como inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos e vitaliciedade, deixar o seu cargo vitalício para se aventurar pela seara do mundo político? Será que um juiz serve melhor à sua comunidade sendo prefeito/vereador, que aplicando corretamente as leis nos Fóruns? Será um cargo efêmero de prefeito por 4 anos mais "proveitoso" que uma carreira VITALÍCIA no Judiciário?

Temos ainda casos de deputados federais/estaduais que abrem mão de seus cargos para tentar a prefeitura de algumas cidades do interior. O que faz com que esse deputado estadual/federal, que segundo dados divulgados pela ONG Contas Abertas (que utiliza como fonte o Sistema de Acompanhamento dos Gastos Federais) recebe por mês R$ 102,3 mil entre salários e verbas de gabinete, pleitear um cargo de prefeito, com modesmos vencimentos que giram em torno de R$ 10 mil? (média dos vencimentos dos prefeitos das Capitais brasileiras)

A resposta é simples: a verba municipal, apesar de reduzida é infinitamente mais fácil de ser manipulada em favor próprio que as verbas federais ou estaduais. Via de regra a motivação nunca é a defesa dos interesses da cidade, mas apenas os seus próprios - entre manipulação de vultuosas verbas e obtenção de prestígio na cidade.

No final o eleitor acaba sempre por encenar um dos dois papeis: palhaço ou cúmplice. Cúmplice quando elege aquele médico influente que distribui amostras de remédios e atestados do INSS, aquele advogado que ajudou o primo a ganhar uma causa trabalhista ou vende o seu voto, ignorando os candidatos realmente engajados na defesa dos interesses do município - que não tem verba suficiente para contratar carros de som barulhentos, distribuir santinhos que apenas servem para "emporcalhar" a cidade e elaborar musiquinhas contagiantes (ou enervantes).

O eleitor consciente que pesquisa e analisa o passado dos candidatos e a sua possível contribuição para sua municipalidade acaba por encenar o papel de PALHAÇO, pois infelizmente o seu voto não vale mais do que do que aquele dado em troca de atestados, ações trabalhistas ou cestas básicas. No final das contas - leia-se processo eleitoral - o que resta ao eleitor brasileiro CONSCIENTE é o gosto amargo de um processo eleitoral falido, da inutilidade de seu voto bem como de seu esforço cidadão. Chega-se mesmo a duvidar de todo o regime democrático, que segundo bem ilustrado na matéria do colega Spock do projeto SILI somente serve para perpetuar um sistema corrompido, composto em grande parte por pessoas igualmente corrompidas.

Eu admito que estou entre o rol dos palhaços e que, de 4 em 4 anos amargo o gosto da inutilidade de minhas pesquisas e ponderações sobre candidatos. E você leitor? É palhaço ou cúmplice?

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