O neurocirurgião Marco Túlio Setti, que faz parte da equipe que operou Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, disse na manhã deste sábado (18) que o estado de saúde da jovem piorou em relação a sexta-feira (17). Setti diz que Eloá está na pior pontuação numa escala que vai de 15 a 3 e existe a possibilidade de morte cerebral. Se sobreviver, contou, ela corre o risco de ficar em estado vegetativo permanente.
A garota foi baleada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, de 22 anos, após seqüestro de 100 horas em Santo André, no ABC, e está internada no Centro Hospitalar Santo André. Setti disse que Eloá está sendo retirada do coma induzido para verificar como o organismo vai se comportar sem a medicação. Essa avaliação pode levar até seis horas. A bala atravessou toda a cabeça de Eloá e, de acordo com o médico, não há resposta de atividade cerebral.
Em lesões cerebrais causadas por armas de fogo, afirmou Setti, os danos costumam ser “desastrosos”, com risco de estado vegetativo permanente. “O mais grave foi a proximidade da arma na cabeça”, disse o médico, em relação ao tiro à queima-roupa.
Três neurocirurgiões participaram da operação, que durou pouco mais de três horas. Nao há previsão para a retirada do projétil e, de acordo com Setti, a prioridade da cirurgia era reconstruir os tecidos destruídos pela bala.
O estado de Nayara Silva, porém, é mais animador, diz o cirurgião bucomaxilofacial Gabriel Pastore, que participou da cirurgia que retirou a bala alojada na boca da adolescente, na noite de sexta-feira (17).
Segundo médico, Nayara amanheceu bem, tem um bom quadro pós-operatório, respira sem aparelhos desde o fim da cirurgia – que durou duas horas e meia – e não apresenta sinais de infecção. “Ela evoluiu bem, e há previsão de alta nos próximos dias”, disse. A garota, porém, segue internada na unidade de terapia semi-intensiva para que seja monitorado o risco de infecção.
“O edema diminuiu, e ela se alimenta normalmente por via oral, sem necessidade de sonda”, diz. O tiro, diz o médico, não atingiu a garota à queima-roupa. A bala entrou pelo lado direito do nariz, desceu em direção à boca, atingiu o dente canino esquerdo, o osso que dá suporte ao nariz e o osso da mandíbula. Apesar de o tiro ter atingido a mão esquerda, o médico disse que a lesão não foi grave e só atingiu “tecidos moles”.
Ainda de acordo com Pastore, não há previsão de segunda cirurgia para Nayara. Se for necessário, diz, será para fins estéticos, como implante do dente perdido e reparação da face. “Mas isso não é para agora, só daqui a 60 ou 90 dias”.
Perguntou pela amiga
Pastorel contou aos jornalistas que, logo que chegou ao hospital, Nayara perguntou pela amiga e quis saber se ela também estava sendo atendida. Outro médico da equipe disse que Eloá estava vindo e pediu que Naiara ajudasse na recuperação dela mesma colaborando com a equipe e dizendo o que estava sentindo, relatou o médico.
De acordo com a diretora do hospital, Rosa Maria Pinto Aguiar, os pais de Eloá estão no hospital. “Eles estão muito abalados. O pai teve uma crise hipertensiva ontem novamente”, disse. Os de Nayara passaram a noite no Centro Hospitalar.
Um novo boletim sobre o estado de saúde das meninas será divulgado pelo hospital às 17h deste sábado.
Desfecho trágico
As duas adolescentes ficaram feridas no desfecho do seqüestro que durou mais de 100 horas. Na segunda-feira (13), por volta das 13h30, motivado por ciúmes, o jovem Lindemberg Alves, antes considerado calmo pelos amiigos, invadiu o apartamento da ex-namorada e chegou a manter quatro reféns.
No mesmo dia, ele libertou dois adolescentes que estavam no local para realizar um trabalho escolar de geografia. No dia seguinte, libertou a amiga da ex-namorada, Nayara Silva. Entretanto, como parte das estratégias de negociação, ela voltou ao apartamento na manhã de quinta-feira (16).
O jovem chegou a falar em entrevistas que iria libertar também a ex-namorada, mas as negociações não avançaram. Um promotor de Justiça esteve nesta sexta no local com um documento que dava garantia de que o seqüestrador não seria ferido ao se entregar. O advogado do jovem disse que essa era uma de suas exigências e havia expectativa de que ele se entregasse no começo da noite.
Quando a polícia organizava uma coletiva de imprensa para falar sobre as negociações foi ouvido um estrondo. Às 18h08, a PM afirma que policiais que estavam em um apartamento ao lado do cativeiro ouviram um tiro disparado pelo seqüestrador. O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) explodiu a porta e deteve Lindemberg. A adolescente Nayara deixou o apartamento andando, enquanto Eloá, carregada, foi levada inconsciente para o hospital. O seqüestrador, sem ferimentos segundo a polícia, foi levado para a delegacia e, depois, para a cadeia pública da cidade.
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